sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Dar é bom!! - Luís Fernando Veríssimo


Dar...é bom!!!
Dar não é fazer amor Dar é Dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Chama-te de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais.
Dar é bom. Melhor do que dar, só dar por dar. Dar sem querer casar...
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço de Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado... Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der pra ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro.
Dar é bom na hora. Durante um mês. Para os mais desavisados, talvez anos.
Mas dar é dar demais e ficar vazio. Dar é não ganhar.
É não ganhar um "eu te amo" baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, pra apresentar pra mãe, pra darão primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: "Que que cê acha,amor?" É não ter companhia garantida pra viajar.
É não ter pra quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho... É não ter alguém pra ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável... Dê mesmo, dê sempre, dê muito...
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão... esse sim, relaxa, e cura o mal humor ameniza todas as crises e faz você flutuar...

(Luís Fernando Veríssimo)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Amém - O Teatro mágico


Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade... ]
[ nada mudaA criança que me pediu dez centavos é um homem de idade ]
[ no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas.